Dramaturgia em processo

Como ficou o espaço depois da improvisação
Foto: Priscila Mesquita

Segue um pequeno trecho do texto criado a partir da improvisação "O Baú de memórias". Nada é definitivo, a dramaturgia encontra-se em processo de criação.

Meire – (lendo Anais Nin) “Chacoalhou as pesadas pulseiras indianas. Acariciou as garrafas azuis do oriente, estendeu-se de novo”.
Júlia de óculos escuros, blusa de lã e salto, está de costas, com o corpo colado na parede.
Meire – (lendo) “Acariciou as garrafas azuis do oriente, estendeu-se de novo. Chacoalhou as pulseiras pesadas indianas...Acariciou...”.
Pri – Está faltando um pedaço.
Júlia tosse, descola da parede e caminha para trás. Vira-se de costas para o público, caminha com um pé arrastando pelo chão.
Meire – "Chacoalhou"...
Júlia torce o pé que arrasta e contorce o corpo. Meire enfeita a maleta com fotos. Pri vê fotos e as organiza junto com as cartas. Lisa coloca grampos.
Pri – (olhando o verso de uma foto) Não tem a data.
Manú em pé sobre a mesa arrasta o colar de pérolas por entre as canecas. Lisa levanta-se, chacoalha a cabeça, verificando se os grampos estão bem presos. Júlia caminha sóbria abraçando-se com o casaco. Encosta-se de lado na parede e esfrega-se nela. Tira os óculos, coloca sobre a cabeça e caminha tentando equilibrá-los.
Meire – "Chacoalhou as pesadas pulseiras indianas. Acariciou as garrafas azuis do oriente. Estendeu-se novamente".
Lisa continua a prender seus cabelos com grampos, Pri a organizar e Júlia a caminhar. Manú deitada sobre a mesa faz esculturas com as canecas.
Meire – (lendo) “O medo da loucura. Só o medo da loucura fará ultrapassar as fronteiras invioláveis da solidão” ...(caminha e lê) "O medo da loucura, só medo da loucura...”
Júlia torce os pés e faz caretas. Lisa chacoalha a cabeça. Manú em pé diante da mesa envolve as canecas com o colar e as levantas. Júlia faz poses de mulher fatal deformada. Lisa faz acrobacias testando a firmeza de seus cabelos. Meire parada, lê. Pri organiza as fotos.
Meire – (lendo) "O medo da loucura. Só o medo da loucura fará ultrapassar as fronteiras invioláveis da solidão".(caminha e lê) "O medo da loucura, só medo da loucura"... (caminha em torno das cartas organizadas)
Júlia senta-se em uma cadeira de costas para o público e com as pernas abertas. Lisa abre o baú.
Meire – "O medo da loucura. Só o medo da loucura fará ultrapassar as fronteiras invioláveis da solidão".
Pri – Psiu!
Meire – "O medo da loucura. Só o medo da loucura fará ultrapassar as nossas fronteiras invioláveis da solidão". (caminhando em torno das cartas e fotos)
Pri – (protegendo a organização de cartas e fotos) Cuidado!
Meire – O medo da loucura.
Pri deita-se em torno da organização, querendo proteger dos pés de Meire. Com seu braço faz uma barreira para que Meire não ultrapasse.
Meire – "O medo da loucura destruirá os muros de nossas casas secretas. E projetará nos muros"...
Pri – Cuidado!
Meire - "O medo da loucura".
Pri - Cuidado! Eu posso esquecer.
Júlia ainda sentada de costas. Lisa coloca mais grampos e Manú brinca com as canecas no chão, como se fossem carrinhos de brinquedo.
Meire – "O medo da loucura destruirá os muros de nossas casas secretas. E projetará nos muros"...
Pri – Cuidado! (segura nos pés de Meire os conduzindo para trás)
Meire agacha-se ao lado de Pri e continua lendo enquanto Pri vê fotos. Manú, e Lisa sentam-se no chão, perto de Júlia que está sentada na cadeira.
Pri – (olhando uma foto) Eu não lembro desse dia. (falando para as outras, mas ninguém ouve) Eu não lembro desse dia. (falando mais alto) Eu não lembro desse dia.

Comentários