Algumas reflexões acerca do "devised theatre"


Ensaio: lendo uma das versões do texto "O Jardim de Joana".
Na foto: Emanuele Mattiello e Julia Oliveira
Foto: Morgana Martins

Apenas algumas reflexões sobre o nosso próprio processo. A prática demonstra às vezes pontos delicados, que nem sempre a teoria apresenta. Ou, se apresenta, ler sobre tais delicadezas, não é a mesma coisa que vivenciá-las.
Um processo de criação apoiado na prática do devised theatre, só pode ser eficiente e realmente empoderador para todas as mulheres envolvidas, se houver uma troca sincera de desejos, dúvidas, desconfortos. A prática do devised theatre, permite que todos se coloquem criativamente, porém, para o grupo funcionar, depende da atitude individual. É preciso se posicionar perante o grupo quando não se está satisfeito com algo, quando se deseja ir além de onde está, quando sente que suas ideias não são suficientemente ouvidas. Só assim uma prática deste tipo pode dar certo. Não se pode esperar pelo outro, que o outro adivinhe o que sentimos ou o que pensamos. Isto serve para qualquer relacionamento.

Brigida de Miranda dando algumas indicalçoes de cena.
Foto: Emanuele Mattiello

 Se em um processo de devised theatre, aceitamos tudo o que os outros colocam, sem nos posicionarmos, dizendo claramente a nossa opinião, é fato que este tipo de processo não dará certo e alguém sairá ferido. É como em uma relação amorosa, onde cada um dos parceiros precisa estar aberto para ouvir o outro e estar disposto a dizer o que sente e pensa, mesmo que isso custe um mal estar. Mas, vale lembrar que o mal estar será maior e pior quando acumulamos dentro de nós nossos sentimentos, pois em algum momento isso transbordará, reverberando no todo. É claro, há coisas que realmente não precisam ser ditas, e a fronteira entre o que deve ou não ser dito, é muito tênue. Assim, precisamos aguçar a nossa percepção para saber o que é permitido. Importante também é refletir sobre como essas coisas serão ditas. Há mil maneiras de dizer uma mesma coisa, e nem é preciso dizer, que devemos nos esforçar para não ferir ninguém com nossas palavras. Podemos ser sutis, mas ao mesmo tempo direto. Meias palavras correm o risco de não serem claramente compreendidas. E ser direto não é a mesma coisa que agir grosseiramente.

Emanuele Mattiello, Julia Oliveira e Lisa Brito: discutindo o texto
Foto: Morgana Martins

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