Ares, Deus da Guerra

O Combate de Ares e Atenas, Jacques Louis David. Ano? Fonte?

Lembrando do encontro de hoje, do grupo de pesquisa "Poéticas Feministas", no qual foi apresentado o texto Reivindicando nossa herança da Deusa (autora?), artigo contido no livro O novo despertar da Deusa, foi apontado o fato de muitos deuses masculinos serem representados com espadas ou fogo, o que simboliza a dominação masculina pelo poder da guerra e pela violência. A partir dessa discussão, venho compartilhar o que li sobre Ares, deus grego da guerra.
De acordo com Brandão, Ares em grego significa " 'desgraça, violência, destruição'. [...] Dotado de coragem cega e brutal, é o espiríto da batalha, que se rejubila com a carnificina e o sangue" (Brandão, 1997; 40). Interessante notar que Ares nasce do casamento entre Zeus e sua legítima esposa, Hera, e que da união de Ares com Afrodite, deusa do amor e da beleza, nasce a Harmonia...
Outro ponto interessante, é que Ares, enquanto deus da guerra utiliza-se da violência e Atená, a deusa da sabedoria, usa a inteligência. Atená prevalece sobre Ares, pouco cultuado pelos gregos e desprezado pelos outros deuses do Olimpo. O próprio pai de Ares "o chama de o mais odioso de todos os imortais que habitam o Olimpo [...]. O 'flagelo do homens, o bebedor de sangue', como lhe chama Sófocles [...]"(op.cit;loc.cit). Irrita a própria mãe, e sua meia irmã, Atená o denomina como " 'louco', e 'encarnação do mal' " e, "dirigiu contra ele a lança de Diomedes e mais tarde [...] ela própria o feriu com uma enorme pedra. Somente Afrodite, 'et pour cause' o chama de 'bom irmão' [...] (op.cit;loc.cit.). Contraditório o fato de que a própria deusa da inteligência e da sabedoria utiliza-se da violência como estratégia...
Uma imagem interessante é descrição de Ares dada por Brandão: "De altura gigantesca, coberto com pesada armadura, com um capacete coruscante, armado de lança e escudo, combatia normalmente a pé, lançando gritos medonhos" (op.cit;loc.cit). Seus ajudantes nos "campos de batalha, eram: Éris, a Discórdia, insaciável na sua fúria. Quere, com a vestimenta cheia de sangue; os dois filhos que tivera com Afrodite, cruéis e sanguinários, Deîmos, o Terror e Phóbos, o Medo, e a poderosa Enio, 'a devastadora' "( op.cit.;loc.cit.). Enio fora provavelmente uma deusa da guerra anterior a Ares, sendo substituída por ele e resignificada como sua filha. Quase todos os filhos de Ares foram violentos ou cruéis. Seu mito envolve passagens de muita violência, bem como estupros, línguas cortadas, assassinatos, roubos, ciúmes, vingança, canibalismo e aprisionamento. Chega a dar um verdadeiro mal estar, ânsia de vômito, ao ler sobre os seus feitos e os de seus filhos.
Apesar de ser o deus da guerra, ele fora constantemente derrotado por heróis, mortais e deuses, dentre eles, Atená, o que representaria a vitória da inteligência sobre a violência, representando a essência do pensamento grego. Este pensamento é correto, mas não totalmente satisfatório. Brandão propõe a idéia de que talvez Ares seja um demônio popular, e não um deus, ou talvez seja "um herdeiro pouco afortunado de alguma divindade pré-helênica" (op.cit.;43). Um estranho no ninho que não se adaptou à religião grega. Sófocles o denominou como "um deus que não é um verdadeiro deus.
Seja como for, Ares jamais se adaptou ao espírito grego, tornando-se um antípoda do equilíbrio apolíneo" (op.cit.;44).
Depois de ter lido Brandão e verificado que Ares tinha como filho um Dragão, que guardava uma fonte de água, e que fora morto por Cadmo, naveguei pela internet e vi a possibilidade de Ares ter sido resignificado como São Jorge na religião cristã. Daí vem a imagem de São Jorge com a espada, o escudo e o dragão, imagem apontada por Manú no encontro de hoje.
Apesar dessa história nos contar que este deus fora pouco cultuado pelos gregos antigos, hoje como São Jorge ou como Ogum este deus é muito cultuado. Não apenas nessas formas divinas, mas nas próprias guerras que se travam diariamente nas sociedades atuais. Este deus ainda tem sua porcentagem do reinado sobre a terra, infelizmente vencendo na maior parte das vezes a inteligência e o bom senso.

Bibliografia:

BRANDÃO, Junito de S. Mitologia Grega Vol. II. Editora Vozes: Petrópolis, 1997


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