A TRISTEZA DA MULHER BEM-SUCEDIDA

Lisa Brito durante a realização do percurso
Foto: Priscila Mesquita 

Uma observação: esses fichamentos que estão sendo postados aqui, são apenas fichamentos, não contendo a nossa opnião sobre eles. Portanto estão abertos a discussão e críticas.


A TRISTEZA DA MULHER BEM-SUCEDIDA

Autora: June Singer
In: NICHOLSON, Shirlei. O novo despertar da Deusa: o princípio feminino hoje.
Fichado por: Priscila Mesquita

Neste artigo, a autora aborda um problema detectado em seu consultório: mulheres que têm entre trinta e quarenta e cinco anos procuram ajuda psicoterapêutica apesar de terem conseguido a maior parte do que queriam na vida. Este perfil é chamado por ela de “a tristeza da mulher bem-sucedida”. Esta mulher pode ter sucesso na carreira, mas não ter construído uma família. Ou pode ter tudo isso, mas achar que o casamento é um problema para ela. Tem medo de ser dominadora em relação a um parceiro masculino ou medo de não conseguir expressar-se no ambiente profissional e familiar. Divide-se entre as suas próprias ambições e ao apoio que deve dar ao parceiro.
Pensa em ter filhos mas teme que estes possam atrapalhar seu desenvolvimento profissional. Tenta abordar esta questão de forma racional, mas no fundo é puro sentimento. A decisão de ter ou não um filho traz conseqüências profundas para a sua psique. O relógio biológico é uma preocupação que a difere dos homens, pois os calores da menopausa a avisam que seus anos férteis estão chegando ao fim, e uma gravidez adiada devido a outras prioridades, se acontecer será envolta de riscos maiores.
Não que os homens estejam isentos dessas mesmas preocupações, porém, homens e mulheres são diferentes biologicamente, em estrutura e potencialidade. Deste modo, os valores de ambos tendem a serem ordenados psicologicamente de forma diferente, assim como as prioridades.
A autora acredita que esta depressão subclínica não é um problema apenas dos nossos tempos, mas sim um problema arquetípico, pois “deriva de um padrão do inconsciente que afeta pessoas de todas as culturas e todas as idades” (p.132). Todos os seres humanos têm uma mulher em sua vida e a sensibilidade feminina tem acrescentado, desde os tempos remotos, um toque de suavidade à vida. É como se existisse um silêncio na alma quando essas qualidades não estão presentes na vida. Assim, muitas mulheres bem-sucedidas reclamam terem perdido a sua “feminilidade”. Entendendo a base arquetípica deste problema presente em nossa cultura, descobre-se o seu significado, ao invés de deixar-se levar pela infelicidade.
Este problema surge do conflito entre valores opostos presentes em nossa sociedade e dentro de nós, que são o da identidade individual e do relacionamento. A identidade individual é reforçada por nossa sociedade, e “o mito do herói é a principal história arquetípica em nossa cultura” (p.132). Independente das conseqüências, o herói deve provar sua excelência e atingir o objetivo que determinou para si mesmo, utilizando toda a sua força e vontade. A vergonha seria o problema que surge quando se dá ênfase na identidade. Vergonha de descobrir que não somos aquilo que pensávamos ser, e de não cumprir as expectativas do outro.
Quando a participação em um grupo é o interesse predominante de uma pessoa, seus esforços são direcionados a satisfazer a terceiros antes de si mesmo. A satisfação vem quando têm seus esforços reconhecidos dentro do grupo. O problema que pode surgir quando se está inclinado a esta posição, é o sentimento de culpa, por não ter cumprido as expectativas do grupo.
Conforme o desenrolar da vida, as pessoas são orientadas por um ou outro valor, enfatizando ou o aspecto da individualidade ou o do relacionamento. Conforme a situação da vida se modifica ou quando chegamos à meia idade, somos confrontados com o outro aspecto que até então havia ficado em segundo plano. Assim ao ficarmos mais velhos, temos que admitir o lado oposto ignorado. O que se espera é atingir uma harmonia entre estes opostos. Mas no decorrer da vida, seremos confrontados muitas vezes com esta pergunta: “O que será prioritário em qualquer situação: a preservação da autonomia pessoal ou a necessidade de cooperação com um grupo do qual somos membros?” (p.135).
Singer faz uma abordagem histórica, relacionando a ênfase na identidade pessoal à sociedade patriarcal, sendo o objetivo do princípio masculino, a perfeição. Nas sociedades patriarcais, os indivíduos com inclinação para tecer uma identidade alcançam grande poder. A autora argumenta que em geral são os homens que se encontram em posição de poder porque “um homem ambicioso e orientado em função da carreira pode correr e se atirar de cabeça no trabalho e nas atividades adjacentes que o apóiam sem ter de parar para ter bebês ou ficar em casa quando a babá não chega” (p. 135).
O conjunto de valores associados ao relacionamento está ligado ao feminino, sendo o objetivo do princípio feminino, a totalidade. Nos lugares onde os relacionamentos são valorizados, a tendência é que valores matriarcais predominem. Nesses ambientes é permitido que sejamos vulneráveis, o que não acontece quando a identidade é o mais importante.
Aderimos à cultura da identidade, principalmente nos primórdios do movimento feminista, onde as mulheres estavam descobrindo sua força interior. Hoje, assumimos posições de poder, mas diferentemente dos homens, pois tivemos que fazer escolhas que são em sua maioria, estruturadas por relacionamentos.
Viver de modo unicamente lateral é o que gera os conflitos psíquicos. Se sacrificar demais para estabelecer uma identidade pessoal é o que leva à depressão. Além, de fazer tudo o que os homens fazem, a mulher ainda leva consigo a responsabilidade primária de cuidar da casa.
A depressão é um desejo de harmonizar os opostos dentro de si e de validar o self feminino, que “inclui a totalidade do ser da mulher”. Este, “baseia-se na função maternal, que é vista por essa mulher como uma ameaça à sua identidade e até mesmo à sua sobrevivência psíquica” (p.137).
Em grande parte somos condicionados pela sociedade, mas somos mais do que condicionamento, portanto temos algumas escolhas diante tudo que nos é oferecido. A resolução provisória proposta pela autora é para reconhecermos que esta vida é passageira. Desperdiçaremos nossos dias preciosos oscilando entre a culpa e a vergonha? Ela propõe que façamos um ensaio sobre a nossa morte, para que assim percebamos o que vai ficar depois que formos. É preciso deixar-se ir.
Para curar este conflito é preciso reconhecer nossas limitações, buscar moderação em todas as coisas e aceitar-nos como somos. Podemos “fazer um pouco menos e um pouco mais devagar, com carinho e amor. [...] o objetivo do princípio masculino é a perfeição e o objetivo do princípico feminino é a totalidade. Se você for perfeito, não pode ser completo, pois ser completo quer dizer que contém bem e mal, certo e errado, esperança e desespero.
[...] talvez não devêssemos lutar tanto pelos aplausos, porém mais pelo prazer e a graça da dança” (p.140).

Comentários

  1. Interessante este fichamento. totalidade ou perfeição? é tão simples nas palavras e quando na realidade, a vida nos cobra a perfeição.

    Gostaria de "provocar" com o seguinte questionamento:

    Não sei se o que compreendi é a essência deste fichamento. A totalidade não seria a própria perfeição?

    Darmos conta do trabalho, dos estudos, da casa, da família, dos amigos, etc, não é uma questão totalitária de uma pessoa perfeita - homem ou mulher?

    A totalidade e a perfeição não são unas?

    Me façam compreensão,

    Agradeço a leitura,

    Thais

    ResponderExcluir
  2. Talvez a totalidade seja uma busca pelo equilíbrio entre todas as partes. Mas o equilíbrio total me parece impossível, consequentemente a perfeição também. Será que quanto mais equilibrado, mais perfeito será??
    Desculpe, só vi seu comentário hoje...que atrasada...

    ResponderExcluir

Postar um comentário